NOVIDADE

29/12/2015

Casa de 1928 será a próxima vítima do apagão histórico de Jataí (GO)



Casa construída em 1928, há pouco mais de 87 anos. Era costume, na época, marcar no frontão do imóvel, o ano de sua "inauguração".


Depois da polêmica destruição do casarão colonial do século XIX ocorrida estranhamente na madrugada do domingo passado, 27 de dezembro (clique aqui para ler a reportagem completa sobre o caso), um outro patrimônio histórico de Jataí, cidade no sudoeste de Goiás que, assim como o casarão secular, também foi tombado e, posteriormente, destombado pela prefeitura; está com os dias contados e, a qualquer momento, pode virar pó.

A "próxima vítima" do apagão histórico de Jataí (GO) será, ao que tudo indica, um imóvel de 87 anos, construída em 1928, situado nos cruzamentos da avenida Goiás, com a rua Anhanguera, ao lado da agência do banco HSBC, bem no centro da cidade. Segundo informações que constam no Decreto 1.512, de 8 de maio deste ano (leia a íntegra do documento, clicando aqui), que destombou mais este patrimônio histórico municipal, o local deverá abrigar um moderno prédio com quatro pavilhões  e um andar térreo. O prédio histórico foi tombado pelo Decreto Municipal 461, de 11 de julho do ano 2000.
Casa construída em 1928 e que é parte significativa da memória histórica de Jataí (GO) vai ser demolida após mais um destombamento pela prefeitura.
DESCULPAS - Para destombar o imóvel que esteve patrimônio histórico de Jataí por cerca de 15 anos, o prefeito Humberto de Freitas Machado (PMDB) alegou, em seu decreto, o baixo valor arquitetônico do imóvel, "pois suas características passam desapercebidas para a grande maioria dos transeuntes", disse o prefeito. Ainda no documento, outros argumentos questionáveis foram oficializados, como o fato, segundo o prefeito, de que "na época do tombamento não havia a preocupação com a necessidade de revitalizar o comércio da Avenida Goiás, que hoje corre o risco de entrar em decadência como acontece com a maioria dos centros velhos das principais cidades do pais", outra desculpa oficial para se desfazer definitivamente de um prédio cujo valor histórico é, para muitos, inclusive para a administração municipal, insignificante.

E o prefeito usou mais uma desculpa para destombar o então patrimônio público histórico municipal. Desta vez, ele apelou em seu Decreto para uma realidade que ocorre, de fato, em Goiânia, capital de Goiás. O prefeito usou como desculpa a migração do centro comercial jataiense para a parte alta da cidade, "principalmente após a construção do (Jatahy) Shopping; Considerando ainda que, em várias cidades, os centro velho tem se transformado em região degradada socialmente (formação de Cracolândias), o que já acontece até com a nossa jovem capital Goiânia", afirmou o prefeito, por meio do Decreto.

Assim, diante destes argumentos, o prefeito foi enfático em determinar que "fica destombado o imóvel situado na Av. Goiás n.º 1.261, esquina com a Rua Anhanguera, objeto do R-03.M. 28.990 do CRI local, de propriedade de Reginaldo Maia de Assis, que foi tombado pelo Decreto n.º 461, de 11 de Julho de 2000".
Casa construída em 1928 e que é parte significativa da memória histórica de Jataí (GO) vai ser demolida após mais um destombamento pela prefeitura. Pessoas passam pelo local e desconhecem o valor histórico porque nunca houve qualquer informação de conscientização. Perde o projeto de transformar Jataí, um dia quem sabe, numa cidade verdadeiramente turística.
QUATRO ANDARES E UM TÉRREO - E o artigo 2º do Decreto Municipal revela qual será a destinação que o local terá após a demolição do imóvel histórico. Assim diz o documento: "O proprietário do imóvel identificado no art. 1º deste Decreto só poderá demolir o imóvel com o início imediato da execução do projeto apresentado ao Município, onde consta que terá quatro pavimentos e mais o térreo, conforme projeto encartado no Procedimento Administrativo n.º 5237/2015, em poder o Município."

O artigo seguinte, determina que "o proprietário do imóvel identificado no art. 1º deste Decreto, (Reginaldo Maia de Assis) fica proibido de proceder qualquer alteração no imóvel até o início da demolição". E o artigo 4º estipula uma multa de R$ 100 mil para o caso de descumprimento das condições estabelecidas nos artigo anteriores, que será revertida a favor da Fazenda Pública Municipal. Interessante ressaltar que, se realmente há a preocupação em "modernizar" a cidade, por que a prefeitura, em vez de "fingir" que tomba prédios históricos para, depois, destombá-los usando o argumento de que "o mesmo encontrava-se em abandono"... 

Ué! (permita-me refletir um pouco) Mas quem tomba assume para si o ônus da responsabilidade de cuidar, restaurando e mantendo a história viva "ad perpetum". Ou não é isso? E mais! O prefeito alegou, no seu Decreto, que o local "é sem importância" porque "não desperta interesse nas pessoas que por ali passam. Ora, prefeito! As pessoas só despertarão interesse se forem devidamente conscientizadas da importância de algo. Outra coisa... Por que não há, ainda, a preocupação em trocar toda a fiação elétrica, os postes de luz pré-históricos que fazem uma "teia-de-gato" na avenida Goiás, centro comercial "histórico" da cidade? Nenhuma foto que se tire da avenida Goiás fica bonita ou sugere modernidade enquanto esses horrorosos fios e postes velhos de energia existirem. Concorda comigo? Por que esse interesse quase que compulsivo de se desfazer ou substituir só imóveis antigos? Aí tem!... Tem caroço nesse angu! Pode crer.

Ah! E a tal desculpa do prefeito de que determinou o destombamento "para evitar que o centrão de Jataí se transforme numa "Cracolândia"... Me poupe, prefeito! Não violente a inteligência alheia! Gente alienada até acredita - e apoia - este argumento chulo. Gente que pensa - como eu - vai lhe dizer, como resposta, que se Vossa Excelência não sabe, "Cracolândia" se evita, ou se combate, com políticas sociais de enfrentamento do problema, com políticas sociais sérias e eficientes. E não com derrubada de prédios e/ou monumentos que, podem não valei muito, financeiramente, mas que são de alto valor para a cultura e a identidade histórica de uma cidade e seu povo. Pronto. Falei.

Então é isso. Esta é a história de mais uma história que, a qualquer momento, se apagará da memória física, será apagada do cenário urbanístico de Jataí, uma cidade cuja marca cultural é apagar o passado com a descarada, revoltante e nojenta desculpa fajuta de implantar modernidades.

Veja abaixo, imagens do Decreto Municipal que destombou este imóvel histórico:
Parte 1 (veja o lado direito da imagem)

Parte 2
Parte 3


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